A Mediateca “Abel Abraão” do Bié, localizada na cidade do Cuito, entrou finalmente hoje, sábado, em funcionamento, pouco depois da sua inauguração, um acto presidido pelo ministro “telstariano” das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, José Carvalho da Rocha.
“A instituição, com capacidade para 180 pessoas, tem um auditório com 122 lugares, sistema WiFi gratuito, 14 TVs Corporativas, cafetaria com 24 lugares, espaço de leitura com 164 lugares, 86 computadores do tipo Desktop, 25 dispositivos para eBook (iPads) quatro dispositivos de vídeo-jogos. Tem uma área de Cultura também para 300 pessoas”, especifica a Angop.
O ministro “telstariano” das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, falando aos presentes, disse que com a inauguração da mediateca “Abel Abraão” cumpre-se (como não poderia deixar) com uma orientação do Titular do Poder Executivo, João Lourenço, que visa melhorar cada vez mais a vida das populações.
José Carvalho da Rocha apelou aos utentes para o uso responsável da infra-estrutura, tendo assumido o compromisso em continuar a promover e implementar soluções tecnológicas que aproximem, cada vez mais, a população aos serviços e também continuarem a promover a massificação das tecnologias de informação e comunicação e diminuir o fosso digital.
O governador do Bié, Pereira Alfredo, considerou a infra-estrutura imponente, salientando que a mesma vai oferecer uma nova panorâmica arquitectónica, bem como preencher um vazio na cidade, assim como proporcionar momentos de lazer para “a juventude e adolescentes”.
Para o governante a mediateca coloca ao Governo da Província e não só, desafios iminentes, nomeadamente, gestão, manutenção, o atendimento humanizado dos utilizadores, capacitação dos recursos humanos, criatividade, aproveitamento racional da infra-estrutura, entre outros.
Pereira Alfredo apelou à juventude no sentido de ter uma utilização responsável das ferramentas tecnológicas de informação e comunicação, aproveitando-se dela para gerar coisas úteis para sociedade, em contrapartida de práticas que beliscam a convivência social.
A rede de mediateca de Angola tem como objectivo conseguir a acesso e a participação total da sociedade angolana na Sociedade da Informação e do conhecimento, fortalecer os sistemas educacionais de Angola, contribuir para o desenvolvimento económico e social de Angola.
À Mediateca, inaugurada no âmbito das festividades do 44º aniversário da independência nacional que se assinala a 11 de Novembro, foi atribuída o nome de ”Abel Abraão” em homenagem ao jornalista aposentado da Rádio Nacional de Angola (RNA), pela notabilização na cobertura da guerra pós-eleitoral de 1992.
O caso (apenas mais um) da mediateca do Bié, que o Presidente da República de Angola anunciou ter sido inaugurada mas que afinal continuava fechada ao público, causou “embaraço” ao executivo, reconheceu o próprio João Lourenço. Nada que a demagogia habitual e ancestral não tenha resolvido.
Durante o seu discurso sobre o Estado da Nação, na abertura do ano parlamentar, João Lourenço fez um balanço da sua acção governativa ao longo destes dois anos, afirmando que a mediateca do Bié tinha sido inaugurada em 2019.
A informação acabaria por ser desmentida por vídeos colocados nas redes sociais, que mostravam o equipamento ainda envolto por chapas metálicas.
Na capital do Bié, Cuíto, onde esteve para uma visita de dois dias, João Lourenço admitiu que a falha embaraçou o governo. É claro que ele não tem culpa. Quem lhe passou essa informação foi o Presidente do MPLA (João Lourenço) que, por sua vez, a tinha obtido do Titular do Poder Executivo (João Lourenço)…
“Alguém criou uma situação embaraçosa para o executivo, que estamos a investigar no sentido de responsabilizar quem o fez”, assumiu João Lourenço num encontro com jovens do Bié, onde foi alertado para a necessidade de equipar a mediateca.
À assunção do embaraço, recebida com palmas, João Lourenço juntou a promessa de “apetrechamento em tempo recorde” do equipamento, uma vez que “a obra está efectivamente pronta”, e disse já ter tomado medidas neste sentido.
“Vamos ver se vos damos esta prenda no Dia da Independência Nacional, 11 de Novembro”, anunciou o chefe do executivo angolano, novamente interrompido pelos aplausos dos que, apesar de tudo, não se importam de ser enganados pelo mais alto representante da nação.
Ao longo de quase duas horas, numa iniciativa que designou como “Diálogos com a Juventude” João Lourenço ouviu (falta saber se registou) as sugestões de vários representantes de organizações juvenis, concordando com algumas e rejeitando outras, ouviu queixas sobre projectos por concluir (eventualmente já dados como prontos e inaugurados), desabafos sobre a falta de empregos, falta de instalações desportivas, falta de bolsas de estudo, falta de casas acessíveis e baixos salários. Falta de quase tudo num país independente desde 1975, em paz completa desde 2002 e gerido há 44 anos pelo mesmo partido, o MPLA.
E até o apelo de um jovem, Faustino Sassambo, porta-voz do corredor centro-sul do Bié que pediu ao Presidente “mais fiscalização aos projectos” e “mais atenção à idoneidade da equipa que o auxilia, pois sente-se que muitas das vezes algumas das situações que lhe chegam não condizem exactamente com aquilo que é a realidade dos cidadãos”.
Propostas que João Lourenço prometeu acatar: “Vamos seguir o seu conselho e exigir mais dos membros do executivo, sobretudo no que diz respeito ao dever de comunicar e comunicar bem”. Teria ficado bem reconhecer que o responsável máximo desse executivo é ele próprio, devendo por isso ser o primeiro a pedir desculpas.
O presidente disse que ia tentar atender a todas as situações relatadas, mas acrescentou que “quando os filhos pedem muito, o pai tem dificuldades em atender tudo” e considerou que é preciso saber estabelecer prioridades.
O chefe do governo angolano foi também confrontado com casos de famílias que beneficiam de projectos habitacionais aos quais não têm direito e apelou à denúncia destas situações. O que andará a fazer o governador provincial?
“Havia pensionistas-fantasma e ex-combatentes-fantasma. Há fantasmas em todo o sítio, pessoas que não têm direito a certos benefícios, mas ficaram com eles recorrendo a esquemas de esperteza e prejudicando quem, de facto, tem direito”, referiu João Lourenço, dizendo que o mesmo se passa na habitação. Recorde-se que, no caso dos ex-combatentes, João Lourenço foi “só” ministro da Defesa.
“Há quem consiga adquirir mais do que uma casa do Estado, é preciso que haja vigilância por parte dos cidadãos. Quem conhece esses casos deve denunciar para proteger quem de facto tem direito”, exortou. E fez bem. E, mais uma vez, para além de gerirem os seus negócios privados, o que andam a fazer os representantes locais do governo central, os governadores provinciais, escolhidos por João Lourenço?
E por falar em governadores provinciais (democraticamente eleitos no gabinete do Presidente do MPLA), o então governador provincial de Luanda, general Higino Lopes Carneiro, procedeu no dia 13 de Fevereiro de 2016 ao lançamento da primeira pedra para construção de novos equipamentos sociais na localidade do Zango III, em Viana, com destaque para 800 residências da tipologia T3, dois shopping, mediateca e auditório.
Recorde-se que a nenhum deles foi dado o nome do jovem Rufino…
A máquina do regime estava a todo o vapor…. eleitoral. O projecto, uma iniciativa da administração municipal de Viana, englobava ainda a construção de um hospital, centro infantil, escola do I e II ciclos, galeria comercial, instalações para as empresas públicas de água e energia eléctrica, dentre outros serviços.
Em declarações à imprensa a propósito dessa iniciativa, o administrador municipal de Viana, Jeremias Dumbo, disse que o projecto estava aberto ao público em geral, que para o efeito devia dirigir-se àquela instituição para mais esclarecimentos.
“As pessoas interessadas deverão escrever para a administração de Viana solicitando o lote de terreno e explicando o que pretendem fazer no mesmo. Apresentam o seu projecto, que será analisado e se aprovado recebem o espaço”, adiantou.
Explicou que essa iniciativa resultava do cumprimento das orientações emanadas pelo governador de Luanda, no sentido de se requalificar algumas zonas e se criarem espaços definitivos para acomodação dos cidadãos.
“Estamos a preparar terrenos, títulos de concessão de espaços à nossa população, para que cada um tenha o seu lote de terra”, concluiu.
O município de Viana, um dos mais populosos do país, possui uma população estimada em dois milhões de habitantes e alberga o maior parque industrial do país.